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AS IMPLICAÇÕES DO "ANDAR COM DEUS"

Atualizado: 14 de ago. de 2023

INTRODUÇÃO

A expressão “Andar com Deus” aparece poucas vezes nas Escrituras, ou mais especificamente em dois contextos principais: no registro da história de Enoque (Gn 5.2-24) e no registro da história de Noé (Gn 6.9).

Quando olhamos para a história desses dois homens percebemos algo em comum. Eles tiveram uma vida piedosa diante do Senhor, mesmo pertencendo a uma geração corrompida e totalmente alheia à fé no verdadeiro Deus.

A expressão "andava com Deus" é uma expressão que comporta um significado que vai além do seu significado simples “de andar ao lado de alguém” ou em “companhia de alguém”.

 

1. Andar com Deus implica primeiramente em uma espécie de relacionamento com ele

As relações humanas se manifestam de diversas formas e em diversos graus. A maneira como o relacionamento interpessoal (entre pessoas) é definido vai depender muito de fatores como cultura, princípios e valores de cada povo.

Cada cultura tem suas próprias regras ou princípios quando o assunto é relações humanas. Contudo, é certo que em todas as culturas existem diversas formas de relacionamentos, que se manifestam em graus diversificados. Os relacionamentos são definidos com base nos papéis ou personagens (personas) que as pessoas representam no contexto social que estão inseridas ou em relação ao outro.

Andar com Deus implica em uma forma de relacionamento com ele, mas como podemos ver ou compreender esse relacionamento?

Quando pensamos em nosso relacionamento com Deus, podemos imaginar algumas formas de relacionamento que são manifestos na experiência humana.

  • Relacionamento de um pai para com um filho (Lucas 11.11-13).

  • Relacionamento de um senhor e um servo fiel (Mt 25.21).

  • Relacionamento entre irmãos

  • Relacionamento de um mestre e seu discípulo (Jo 13.13).

  • Relacionamento entre amigos (Jo 15.15).

Podemos encontrar nas Escrituras indícios de que todas essas formas de relacionamentos podem ser refletidas na experiência de comunhão do crente com Deus, contudo, umas delas nos chama mais atenção “o relacionamento de amizade” ou o “relacionamento entre amigos".

Quando nós paramos para analisar as implicações do que é ser um amigo, vamos perceber que essa é a forma mais completa e mais perfeita de comunhão que existe.

Um pai pode ser também um amigo para o filho, mas nem todo pai é amigo; igualmente, um senhor pode desenvolver vínculos de amizade com o seu servo, mas nem todo senhor é amigo. Isso podemos também considerar com relação à irmãos ou com relação ao mestre, contudo, aquele que é verdadeiramente amigo sempre será amigo não importando as circunstâncias.

Assim a amizade se torna a forma mais pura e mais perfeita de comunhão.

Na experiência humana, todas as outras formas de relacionamentos manifestam uma certa dose de arbitrariedade, e por isso, nem sempre temos controle sobre como essas formas de relacionamento são estabelecidas e impostas para nós.

O filho não pode escolher quem será o seu pai; o servo não pode escolher quem será seu senhor; o irmão não pode escolher quem será seu irmão; o discípulo não escolhe o seu mestre. Mas, a amizade não nos é imposta. Nós escolhemos a quem chamaremos de amigo ou de quem nos permitiremos ser amigos e podemos decidir também até onde manter essa amizade.

A amizade se torna a forma de relacionamento mais pura porque ela não se firma em uma base puramente egoísta como muitas outras formas de relacionamento, mas em uma base altruísta. O amor de Deus é um amor de natureza altruísta (1 Co 13), por isso o amor de Deus tem tantas qualidades positivas. No amor altruísta todas as qualidades positivas e todas as virtudes são esperadas.

Olhando todas aquelas qualidades narradas em 1 Coríntios 13, concluímos que o amor de Deus “o amor ágape” é um amor riquíssimo em tudo:

“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha”; (1 Coríntios 13:4-8).

O amor de Deus é por natureza um amor de amizade. A amizade pode ser mais preciosa do que qualquer outra forma de relacionamento, inclusive do amor entre irmãos. O escritor de provérbios afirma: “Quem tem muitos amigos pode chegar à ruína, mas existe amigo mais apegado que um irmão” (Pv 18.24).

Essa forma de relacionamento com Deus pode ser encontrada em outros exemplos bíblicos como de Adão (Gn 3.8), Abraão (Tg 2.23), Moisés (Êx 33.11), Davi (At 13.22).

 

2. Andar com Deus implica em ter comunhão com ele.

A comunhão é imprescindível para o desenvolvimento de qualquer forma de relacionamento. Comunhão significa “ter, praticar ou desfrutar” de coisas em comum. Se afirmamos que Enoque e Noé tinham comunhão com Deus, estamos dizendo ao mesmo tempo que eles tinham muitas afinidades em comum com o Senhor.

A comunhão não se aplica apenas a questão do bom relacionamento, ela também reflete sobre questões como afinidades de pensamentos, ideias, conceitos (Rm 12.1,2; 1 Co 2.6).

A pessoa com quem eu desfruto de comunhão precisa ser alguém que tenha afinidades comigo ou pelo menos que saiba me aceitar como eu sou e eu como ela é. Contudo, não significa identificação total, pois ter comunhão implica também em saber respeitar as diferenças ou a diversidade, mas as diferenças e as diversidades nunca é colocada acima da própria pessoa. Assim o amor de amizade valoriza a individualidade e isso torna possível a comunhão entre duas ou mais personalidades.

Enoque e Noé tinham íntima comunhão com Deus, e essa comunhão era reforçada diariamente por meio do amor de amigos que eram cultivados entre eles e o seu Deus.

Não somos muito pacientes com pessoas que não temos muitas afinidades, podemos tolerá-las, mas a primeira chance que temos de evitá-las certamente não vamos desperdiçar.

Pensando na relação de Enoque com Deus e de Deus com Enoque, podemos depreender que não havia qualquer sentimento de repulsa ou estranheza, pois Enoque andou com Deus 300 anos.

 

3. Andar com Deus implica em ter algo em recíproco com ele

A comunhão só pode existir onde há a reciprocidade. Ambos precisam tirar o máximo proveito da companhia do outro, pois do contrário, a amizade não poderá ser sustentada.

A Reciprocidade reforça o conceito de correspondência e de mutualidade. Não podemos desfrutar de comunhão ou de amizade com alguém que não temos correspondência.

Podemos definir a reciprocidade como a capacidade de "oferecer na medida que recebemos e receber na medida que oferecemos". Portanto, não pode haver comunhão onde não há correspondência. O grau e intensidade do sentimento de amizade são definidos e medidos pelo grau de correspondência com o outro.

 

4. Andar com Deus implica em identificação plena com ele.

O Evangelho prepara o crente para ser semelhante a Cristo (2 Co 2.15). Esse processo de identificação perdura por toda a vida do crente. O grau de identificação com Cristo pode ser medido com base naquelas características que são típicas da natureza do Senhor Jesus, e que Paulo chama de fruto do Espírito (Gálatas 5.22).

Quanto mais elementos do fruto do Espírito refletimos, mais parecido com Cristo somos, e quanto mais parecidos com Cristo estamos, mais nos identificamos com ele.

Uma pessoa que não tem muita identificação com a pessoa de Cristo, dificilmente conseguirá suportar sua presença, e portanto, não terá condições jamais de andar com ele.

Andar com Deus significa se deixar moldar por ele. A convivência tem esse poder, isso é, as pessoas que convivem conosco nos influenciam de alguma forma e nós também as influenciamos. Esse impacto que a convivência pode causar no outro é que chamamos de identificação. Esse impacto pode ser tanto positivo com negativo. O andar com Deus nos impactará positivamente para glória dele.

 

CONCLUSÃO

A presença de Deus nos impacta, e também impacta o próprio coração de Deus, pois Deus também é um ser pessoal, que se relaciona com os homens feitos à sua imagem e semelhança.

A verdade é que quem anda com Deus de verdade, nunca mais será a mesma pessoa, pois a presença de Deus nos impacta e nos transforma.

A companhia de Deus na vida de Enoque o impactou de tal forma que Enoque andou 300 anos com Deus. A amizade entre Enoque e o Senhor também impactou a pessoa de Deus, de tal forma que Deus não suportaria viver sem a sua presença.

Assim Deus o arrebatou para junto de si.


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