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ENCHEI-VOS DO ESPÍRITO SANTO

Atualizado: 7 de dez. de 2022

INTRODUÇÃO


O que significa ser “cheio do Espírito Santo”? Como podemos ser “cheios do Espírito Santo”? Ser “cheio do Espírito Santo” é falar em outras línguas? Ser “cheio do Espírito Santo” é profetizar? Quais as implicações desta condição? Ser “cheio do Espírito Santo” é uma atitude da parte do crente, ou é o resultado da nossa condição de salvos em Cristo, evidenciando como uma característica cristã, ou é uma conquista por méritos, ou um estado espiritual. Se é uma condição em Cristo esta condição é posicional ou experimental, ou as duas coisas ao mesmo tempo? Estas e outras perguntas procuraremos responder no transcorrer deste estudo, tomando como base o contexto bíblico geral. O SENSO COMUM Apesar de a “teologia pentecostal” haver ganhado muito espaço no meio evangélico, algumas dúvidas sobre questões de sua envergadura ainda permanecem confusas. Umas delas, sem qualquer sombra de dúvida, é o verdadeiro significado da expressão “ser cheio do Espírito Santo”. Já ouvi muitas perguntas a esse respeito, como também já pude ouvir muitas definições sobre o que vem a ser o ato de “ser cheio do Espirito Santo”. Algumas definições vistas parecem não satisfazer as pressuposições gerais do contexto Bíblico. No meio pentecostal é comum ouvirmos estas definições: Ser “cheio do Espírito Santo” é receber o batismo (com) ou (no) Espírito Santo. Uma experiência carismática pós-salvação (At 1.8; 2.1-8). Ser “cheio do Espirito Santo” é falar em diversas línguas Ser “cheio do Espírito Santo” é possuir o dom espiritual de profecia Ser “cheio do Espírito Santo” é cair no Espírito em manifestações físicas descontroladas como dançar, girar, pular, etc. Eu nasci para Cristo na denominação evangélica considerada a pioneira do “Movimento Pentecostal no Brasil” a “Assembleia de Deus”. Era comum ouvirmos tais definições e outras semelhantes, contudo, acredito piamente que nenhuma destas colocações define de fato o verdadeiro conceito bíblico de ser “cheio do Espírito Santo”. UMA ANÁLISE BÍBLICA GERAL

O evangelista Lucas, autor do evangelho que “leva seu nome”, e do “Livro de Atos dos Apóstolos”, como é universalmente aceito, parece ter exclusividade no uso da expressão. Nas duas coletâneas de sua autoria, Lucas usa a expressão “cheio do Espírito” e outras correlatas mais de 20 vezes. O Evangelho de Lucas e o livro de Atos formavam apenas dois volumes de uma mesma obra, à qual daríamos hoje o nome de História das Origens Cristãs[1], e no início do segundo século, esses dois livros acabaram sendo separados um do outro pelo Evangelho de João, o último evangelho a ser escrito[1]. O leitor pode perceber de maneira bem clara a forte ligação entre os dois volumes, tanto no estilo, quanto no uso peculiar de expressões e ainda a ênfase que se dá aos “atos do Espírito Santo”. João Batista seria “cheio do Espírito Santo” deste o ventre de sua mãe (Lc 1.15); Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo e profetizou...(Lc 1.67); Isabel foi “cheia do Espírito Santo” após ouvir a saudação de Maria (Lc 4.1). O Espírito Santo estava sobre Simeão (Lc 2.25), revelou-lhe que ele não morreria sem antes ter visto o Messias (Lc 2.26), e pelo Espírito foi levado ao templo para ver a Jesus (2.27). Jesus após ter sido batizado por João Batista “foi cheio do Espírito Santo” (Lc 4.1). Da mesma forma no livro de Atos, as ações do Espírito Santo são evidentes: O poder de Deus viria sobre os seus seguidores e os capacitariam para a obra da Evangelização (At 1.8). No cenáculo os discípulos foram “cheios do Espírito Santo” e começaram a falar em outras línguas (At 2.4). Aqui vemos a manifestação de fenômenos sobrenaturais sem precedentes na história bíblia, mas não um evento meramente estranho pois havia sido profetizado pelos profetas (Jl 2.28). Pedro “cheio do Espírito Santo” prega às multidões (At 4.8), o lugar onde os discípulos estavam tremeu, e eles mais uma vez foram “cheios do Espírito Santo” (At 4.3). Os sete diáconos eleitos eram “cheios do Espírito Santo” (At 6.3). Paulo após seu encontro com Ananias foi “cheio do Espírito Santo” (At 9.17; 13.9). Com a pregação de Pedro na casa de Cornélio o “caiu o Espírito Santo” sobre todos os que ouviam a palavra (At 10.44). Barnabé era homem “Cheio do Espírito Santo” (At 11.24). Paulo ao impor as mãos sobre os Efésios veio sobre eles o “Espírito Santo” e “falavam em línguas e profetizavam” (At 19.6). Paulo também faz menção do ato de ser “cheio do Espírito Santo”: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito (Efésios 5:18). Aqui ser “cheio do Espírito Santo” aparece como um imperativo de Deus para a vida do crente ou como um mandamento. NO ANTIGO TESTAMENTO No Antigo Testamento experiências pneumatológicas podem, também, ser evidenciadas na vida de algumas pessoas. Essas experiências se evidenciam no uso de expressões correlatas a expressão “cheio do Espírito”, intermediada pelo enunciado “e veio sobre ele/eles” , “e caiu sobre ele/eles” “e veio sobre mim”, “o Espírito do Senhor”, “o Espírito de Deus”, o “Espirito Santo”, “o Espírito”, indicando uma natureza comum. Vamos perceber que em todos estes casos a manifestação do “Espirito de Deus” sobre alguém tinha como propósito primordial a capacitação dinâmica para o cumprimento de determinada obra ou ação.

  • Balaão

“E, levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus” (Nm 24.2). A verdadeira identidade do profeta Balaão é obscura no texto. Aparentemente Balaão não era descendente e nem ascendente da herança e tradição profética dos videntes de Israel. Por esse motivo seu poderes místicos ou oraculares não parecia proceder da verdadeira fonte que é o Deus de Israel, mas de práticas de adivinhação e ocultismo. Por isso, ele é citado no Novo Testamento como um exemplo de impiedade e falsidade (2 Pd 2.15; Jd 1.11). Apesar de não ser um profeta autêntico o “Espírito de Deus veio sobre Balaão” e inspirou-o a proferir diversos oráculos divinos a respeito de um futuro próximo e um futuro remoto da nação de Israel.

  • Josué

“E Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés tinha posto sobre ele as suas mãos; assim os filhos de Israel lhe deram ouvidos, e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés” (Deuteronômio 34:9). O “Espírito de Sabedoria” é uma variação do dom do Espírito Santo como veremos mais adiante ou mais precisamente da pessoa do Espírito Santo, que pode se manifestar de maneira multiforme (Is 11.2; Ap 1.4; 4.5).

  • Otiniel

“E veio sobre ele o Espírito do Senhor, e julgou a Israel, e saiu à peleja; e o Senhor entregou na sua mão a Cusã-Risataim, rei da Síria; contra o qual prevaleceu a sua mão” Juízes 3:10. Após a morte de Josué (Jz 1.1), iniciou-se o período dos Juízes, período este marcado por muitas guerras, (vitórias e fracassos) do povo de Israel contra os seu inimigos. Após a morte de Josué a conquista da terra de Canaã continuou ainda sendo realizada paulatinamente. Como os vários povos cananeus resistiram em muitas partes a total dominação dos israelitas, coabitaram na mesma terra (Jz 1.21,27,29-31,33). Não demorou muito e o povo de Israel começou a se corromper com os pecados dos cananeus e passaram a servir os seus deuses (Jz 2.11.14). Como consequências dos seus pecados Deus os entregou aos seus inimigos em redor, que os afligiram grandemente, até que clamassem pelo socorro do Senhor (Jz 3.9). Em resposta ao clamor dos israelitas Deus levantou Otiniel. Este foi capacitado pelo “poder do Espírito Santo” para operar a redenção do seu povo e julgar a nação de Israel. Os efeitos do Poder de Deus sobre a vida de Otiniel fez a terra sossegar 40 anos (Jz 3.11).

  • Jefté

“Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, e atravessou ele por Gileade e Manassés, passando por Mizpá de Gileade, e de Mizpá de Gileade passou até aos filhos de Amom” (Juízes 11:29). Jefté foi o 8º juiz de Israel. Por ser um filho bastardo e filho de uma prostituta, foi rejeitado por seus irmãos. “Então Jefté fugiu de diante de seus irmãos, e habitou na terra de Tobe; e homens levianos se ajuntaram a Jefté, e saíam com ele” (Juízes 11:3). Pouco tempo depois os filhos de Amom decretaram guerra contra o povo de Israel e os anciões de Gibeão o foram buscar na terra de Tobe. Gideão concordou em voltar com eles se fosse constituído seu líder. Sem ter muita opção aceitaram de imediato a condição, e Jefté voltou com eles (Jz 11.11). Jefté tentou um acordo de paz por meio do diálogo com os filhos de Amom, mas rejeitaram todo e qualquer acordo pacífico. Diante da reposta negativa dos filhos de Amom o “Espírito do Senhor” veio sobre Jefté e o capacitou para a batalha e para a vitória sobre eles. Antigo Testamento sempre quando o Espírito se manifestava sobre a vida de alguém tinha como propósito a realização de um grande feito. Este princípio também foi conservado no Novo Testamento. O Espírito Santo se manifesta sobre os crentes com o propósito de os capacitar para a batalha espiritual, e para os desafios da pregação do evangelho (At 1.8; 2.4).

  • Sansão

“Então o Espírito do Senhor se apossou dele tão poderosamente que despedaçou o leão, como quem despedaça um cabrito, sem ter nada na sua mão; porém nem a seu pai nem a sua mãe deu a saber o que tinha feito” (Juízes 14:6) “Então o Espírito do Senhor tão poderosamente se apossou dele, que desceu aos ascalonitas, e matou deles trinta homens, e tomou as suas roupas, e deu as mudas de roupas aos que declararam o enigma; porém acendeu-se a sua ira, e subiu à casa de seu pai” (Juízes 14:19). “E, vindo ele a Leí, os filisteus lhe saíram ao encontro, jubilando; porém o Espírito do Senhor poderosamente se apossou dele, e as cordas que ele tinha nos braços se tornaram como fios de linho que se queimaram no fogo, e as suas amarraduras se desfizeram das suas mãos (Juízes 15:14). Os três registros acima falam a respeito da maneira como o “Espírito de Deus” agiu através de Sanção capacitando-o com força descomunal. O caso de Sanção é o único caso específico em que o “Espírito de Deus” veio sobre alguém dotando-o de força física para a realização de atos heroicos descomunal. Podemos deduzir o mesmo de muitos outros casos como o de Davi que feriu o urso e um leão (1 Sm 17.34-37), ou das proezas realizadas pelo heróis de Davi (1 Cr 11.10-47), mas nenhum destes casos é mencionada tão claramente a ação do “Espírito de Deus” como no caso de Sanção.

  • Saul

“E, chegando eles ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles” (1 Samuel 10:10). Saul, o primeiro rei de Israel não era um homem do tipo religioso, e muito menos um profeta, mas um guerreiro hábil pertencente a uma família nobre da tribo de Benjamim (1 Sm 9.1,2). Mas, por ocasião de sua unção como rei de Israel, ministrada por Samuel, o profeta, ele profetizou como os filhos dos profetas que estavam até então ali sob o comando do profeta Samuel. Samuel disse a Saul: “E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e tornar-te-ás um outro homem” (1 Samuel 10:6). Isso se cumpriu no versículo 10 do mesmo capítulo. Um segundo caso envolvendo Saul parece meio inusitado. Ele já havia perdido sua comunhão com Deus por causa de suas atitudes improprias e agora movido pelo sentimento de inveja e ódio perseguia a Davi, o sucessor do trono de Israel. Após algumas tentativas fracassadas de enviar emissários em busca de Davi, (pois todos os emissários enviados eram tomados pelo Espírito e profetizavam com os profetas) (1 Sm 19.20,21), Saul resolve ir pessoalmente, mas do mesmo modo é mais uma vez é acometido pelo Espírito Santo: “Então foi para Naiote, em Ramá; e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, e ia profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá” (1 Samuel 19:23). A experiência de Saul em ambos os casos foram experiências reais de manifestação do poder sobrenatural de Deus, que capacita o homem para uma missão específica. Enquanto fiel, Deus capacitou Saul para realizar grandes feitos, como a restauração da identidade nacional de Israel e algumas conquista sobre seus inimigos. Contudo, ao se rebelar contra Deus, por descumprir seu mandamento, Deus retirou dele o seu Espirito: “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul...” (1 Samuel 16:14a), e passou a sofrer a influência direto de um espírito maligno.

  • Azarias

“Então veio o Espírito de Deus sobre Azarias, filho de Odede” (2 Crônicas 15:1). Não temos muitas informações sobre a vida de Azarias, exceto a de que dispomos nesse contexto. Provavelmente se tratava de um profeta anônimo de Judá. Talvez esse seja o motivo pelo qual não temos muitas informações sobre ele. O “Espírito de Deus” veio sobre Azarias que o impulsionou a entregar uma mensagem profética ao rei Asa “O Senhor está convosco, enquanto vós estais com ele, e, se o buscardes, o achareis; porém, se o deixardes, vos deixará (2 Crônicas 15:2). Tudo indica que, pelo fato de Azarias não ser um dos profetas proeminentes de Israel, jamais teria a ousadia de falar ao rei com um teor tão duro, senão movido diretamente pelo poder do Espírito Santo. Aqui não vemos apenas a entrega de uma mensagem profética, mas de alguém que foi revestido de um poder especial para cumprir uma tarefa específica “levar a mensagem de Deus ao rei Asa”.

  • Jaaziel

“Então veio o Espírito do Senhor, no meio da congregação, sobre Jaaziel, filho de Zacarias, filho de Benaia, filho de Jeiel, filho de Matanias, levita, dos filhos de Asafe” (2 Crônicas 20:14). Como no caso de Azarias, não temos muitas informações sobre Jaaziel, exceto as que encontramos nesse contexto. Ele foi capacitado com “poder pelo Espírito Santo” para entregar uma palavra profética a Josafá rei de Judá. Josafá estava em um grande aperto naquele momento pois os seus principais inimigos haviam se juntado contra ele (2 Cr 20.1,2). Ao tomar ciência disso, Josafá “...temeu, e pôs-se a buscar o Senhor, e apregoou jejum em todo o Judá (v 3), As palavras de Jaaziel movidos pelo “poder de Deus” foi uma resposta Sua ao clamor de Josafá e todo o Judá. Em um momento de grande apreensão como aquele, ninguém teria a ousadia de se levantar como profeta e proferir uma palavra de Deus, exceto aquele que foi capacitado com “autoridade e poder” para tal, no caso Jaaziel.

  • Isaías

“O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos;” (Is 61.1). Estas palavras do profeta Isaías eram uma prefiguração do poder que capacitaria o Messias para cumprir sua missão na terra. Jesus após ter sido batizado por João, e recebido o Espírito em forma de um pomba recitou este trecho, ratificando seu cumprimento pleno em sua vida (Lc 4.18).

  • Miqueias

“Mas eu estou cheio do poder do Espírito do Senhor, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Miquéias 3:8). Miqueias fez menção destas palavras quando denunciava os pecados do povo de Israel, bem como de todos os seus líderes. O “Espírito de Deus capacitou Miqueias com o seu poder afim de que a mensagem fosse falada com autoridade e ousadia.

  • Ezequiel

Outras expressões foram usadas pelos profetas, em especial Ezequiel para aludir a um forte envolvimento e manifestação do poder do “Espírito de Deus”, tais como: “a mão do Senhor era forte sobre mim” (Ez 3.14), “a mão do Senhor estava sobre mim” (Ez 8.1), “caiu pois sobre mim o Espírito do Senhor” (Ez 11.5), “a mão do Senhor estivera sobre mim” (Ez 33.22), “e veio sobre mim a mão do Senhor” (Ez 37.1; 40.1). UMA ANÁLISE TEOLÓGICA Tratamos de forma bem extensa sobre as expressões bíblicas usadas, tanto no Antigo como no Novo Testamento para aludir as manifestações pneumatológicas, agora vamos analisar estas manifestações em contrapartida de nossa temática, o ato de “ser cheio do Espírito Santo”. A palavra “cheio”, traz o sentido de completude, plenitude, totalidade. Quando afirmamos que algo está cheio, estamos dizendo que está “pleno, repleto, totalmente abastecido”. Portanto, quando aplicado a um ato do Espírito Santo sobre o crente, reflete a comunicação plena da plenitude de Deus. Quando somos cheios do “Espírito Santo” somos não somente capacitados com poder, mas somos abastecidos por tudo aquilo que da parte de Deus pode ser comunicado ao salvo. Portanto, não podemos limitar o “ser cheio do Espirito Santo”, a uma única variação da obra de Deus na vida do crente, como por exemplo o simples “falar em outras línguas”, “profetizar”, ou mesmo ao batismo com o Espírito Santo. Conforme podemos conferir na experiência da Igreja primitiva o “batismo com/no Espírito Santo é o ato do Espírito Santo mergulhar por completo o crente no Espírito. O Batismo com o Espírito Santo é uma experiência pós-salvação cuja finalidade é a concessão de poder para o testemunho do Evangelho (At 1.8), bem como para nos capacitar para o exercício cristão, por meio do qual vem a edificação da Igreja, como também nos conceder forças sobre o pecado e sobre o mal. Como já conferimos o “ser cheio do Espírito Santo”, não é uma prerrogativa peculiar da era da Igreja, ou um estado espiritual exclusivo dos crentes que falam em línguas ou profetizam. Quando somos batizados com o Espírito Santo as línguas podem surgir como evidência inicial, e o ato de profetizar como um consequência, mas não podemos ser muito dogmático quanto a isso, pois estaríamos limitando a atuação do poder do Espírito Santo a algumas poucas manifestações exteriores. Como já observamos muitos homens do Antigo Testamento foram “cheios do Espírito Santo”, e realizaram obras grandiosas sob o poder o Espírito Santo, e nenhum deles falaram em línguas, e nem todos profetizaram. Somos persuadidos a acreditar que todos os crentes “cheios do Espírito Santo”, manifestam alguma experiência pneumatológica. Mas não podemos delimitar quais sejam estas experiências. E nem determinar se alguém é cheio ou não por manifestar alguma experiência pneumatológica. A característica mais marcante daquele que é “cheio do Espírito Santo” é a manifestação profética, como vemos em muitos casos já mencionados, principalmente no Antigo Testamento, contudo a manifestação pneumatológica é estabelecida de acordo com os propósitos pré-estabelecidos pelo próprio Senhor. O Espírito veio sobre Balaão (Nm 24.2), Azarias (2 Cr 15:1), Jaaziel (2 Cr 20:14), Isaías (Is 61.1), Miqueias (Mq 3:8), Ezequiel, para que profetizassem e eles profetizaram. Mas o mesmo Espírito encheu Josué (Dt 34:9), Otiniel (Jz 3:10), Jefté (Jz 11:29), Sansão (Jz 14:6) para que fossem bravos guerreiros e libertassem seu povo e assim eles o fizeram. Os emissários de Saul e o próprio Saul também profetizaram quando foram em busca de Davi, mas tudo indica que nesse caso a profecia surgiu apenas como uma consequência da presença do Espírito, ou como um sinal de invasão de um ambiente sagrado, e não para um objetivo específico (1 Sm 19.20,21). O mesmo aconteceu com os setenta anciões que Deus determinou que fossem escolhidos por Moisés para o auxiliarem na tarefa de liderar o povo: “Então, o Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais” (Nm 16.25). A manifestação profética foi evidenciada apenas como um sinal da separação de Deus e para que Moisés fosse reconhecido como seu líder maior “pois Espírito foi tirado de sobre Moisés”. A profecia nos tempos do Antigo Testamento era o símbolo principal da manifestação divina. Já nas páginas do Novo Testamento Isabel, Maria e Zacarias foram “cheios do Espírito Santo”, e magnificaram o Nome e a Glória do Senhor por meio de cânticos espirituais (Lc 1.41-80). Como já enfatizamos “o ser cheio do Espírito Santo” não é uma prerrogativa restrita aos crentes após o evento do Pentecostes (At 2.1-4). Na “teologia pentecostal” o evento do Pentecostes marca, de maneira oficial, o início da era da Igreja e o tempo dos gentios (Lc 21.24). Contudo, a condição de “ser cheio do Espírito Santo” não se limita a dispensação da Igreja. Como já enfatizamos anteriormente, tanto o “evangelho de Lucas”, como “Atos dos Apóstolos” foram escritos por Lucas, o médico amado (Cl 4.14). E, no princípio, os dois volumes faziam parte de uma única obra, que como o próprio prólogo de ambos os livros afirmam, foram endereçados a Teófilo (Lc 1.3; At 1.1). Portanto, quando lemos sobre o atos do Espírito Santo no desenrolar da história da Igreja estamos diante um relato que leva a mesmas impressões do relato de Lucas, por se tratar de um único escritor. O paralelismo e a unidade de estilo podem claramente ser vistas ou percebidas em ambos os volumes. Lucas não restringe o “ser cheio do Espírito Santo” ao contexto da Igreja de Cristo, estende este conceitos a todos àqueles que foram alvos de um grande ato de Deus, ou designados por Deus para atos extraordinários, como Isabel e Zacarias os pais de João Batista. Quando em Éfeso, Paulo deparou-se com um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, “...homem eloquente e poderoso nas Escrituras.” (At 19.24): “Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João” (Atos 18:25). Tanto o texto mencionado acima, como o contexto sugere que Apolo era um homem fervoroso “avivado” que convencia os seus ouvintes por sua eloquência e intrepidez. Comparando a expressão “conhecendo somente o batismo de João”, com a condição dos Efésios no capítulo seguinte “Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João (Atos 19:3), podemos deduzir que Apolo, como os efésios, não havia ainda experimentado o batismo cristão e nem a experiência pentecostal do Batismo com o Espírito Santo. Talvez o tenha experimentado em outra ocasião desconhecida por nós. Isso pode ser um indicativo que mesmo na era da Igreja pessoas podem ser “cheias do Espírito Santo”, sem experimentar a experiência pentecostal de falar em línguas e profetizar. Acredito piamente que o batismo com o Espírito Santo pode manifestar-se na vida de um crente salvo sem o aparecimento físico das “línguas estranhas”, mesmo que aparentemente isso pareça uma contradição. O caso de Apolo pode ser essa exceção, como também o caso de Paulo, onde o escritor Lucas não registra nenhum fenômeno de línguas ou profecia na experiência salvífica e pneumatológica de Paulo (At 9.17,18). Ele foi “cheio do Espírito Santo”, mas não vemos o fenômeno das línguas. Essa proposição tem também uma vasta evidencia eclesiológica quando observada a partir do contexto cristão pentecostal desde o seu nascimento até os dias atuais, pois muitos crentes, apesar de serem bastante eloquentes e avivados, não falam em línguas. Portanto, retifico e reitero dizendo que não podemos ser excessivamente dogmáticos quanto a essa questão, para que não venhamos incorrer no erro de excluirmos do ministério cristão grandes homens de Deus, pelo fato de não falarem em línguas e profetizar, como pode ser observado vastamente no meio pentecostal. LÍNGUAS, UM DOM ESPECÍFICO DO ESPÍRITO SANTO Em Coríntios cap. 12 e 14, Paulo faz uma longa abordagem sobre o dons do Espírito Santo e em especial ao dom de profecia e o dom de línguas. Baseado nas palavras de Paulo podemos concluir o seguinte com respeito ao dom de línguas:

  • Paulo fala sobre a diversidade de dons espirituais tomando como base a figura do corpo. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (12:12. Portanto, não devemos esperar que os membros do corpo de Cristo manifestem as mesmas aptidões ou talentos “dons”; “Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos doutores? são todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? falam todos diversas línguas? interpretam todos?”. As perguntas de Paulo aqui são retóricas, onde a resposta aparece implícita, e a resposta que se espera nas indagações propostas por Paulo é “não”. Portanto, não podemos esperar que todos os crentes da igreja manifestem os mesmos dons, valendo também para o dom de línguas.

  • As línguas, por importantes que sejam, são irrelevantes no culto público, pelo fato de conter uma mensagem inteligível, a não ser que sejam interpretadas (14.5).

  • Os que falam línguas devem procurar interpreta-las para que tanto os ouvintes, como o nosso próprio entendimento seja edificado. Mesmo quando falamos em línguas em particular, devemos buscar interpretá-las para que o nosso entendimento não fique infrutífero (14.14,15).

  • As línguas são um sinal para os infiéis, portanto, em uma reunião estritamente cristã é de uma mesma cultura linguística não há necessidade das línguas estranhas, a não ser que sejam interpretadas (14.22).

  • Com relação as línguas, se não há interprete devemos ficar calados na Igreja ou falar consigo mesmo e com Deus (14.28).

  • As línguas jamais poderão ser usadas como um parâmetro ou padrão para determinar o grau de espiritualidade dos crentes, tão pouco como critério para o exercício de cargos e funções ministeriais na Igreja, desta maneira além de excluirmos pessoas da dignidade ministerial, estaríamos criando uma ideia de uma raça superior de crentes na igreja “os que falam línguas”. Sem contar que estaríamos cooperando para o surgimento de falsas experiência com línguas movidas pelo desejo de muitos de integrarem a classe superior, que evidentemente tem maiores privilégios e honras, como podemos perceber no nosso meio pentecostal. Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11). Devemos levar sempre em consideração a diversidade do corpo de Cristo e peculiaridade de cada membro.

O “SER CHEIO DO ESPÍRITO” SANTO NA EXPERIÊNCIA CRISTÃ Na teologia pentecostal apreendemos que o Batismo com (ou no) Espírito Santo é uma experiência única na vida do crente, como o é, também o “batismo em águas” (Ef 4.5). Contudo, observamos que o “ser cheio do Espírito Santo” é uma experiência que se repete e se renova constantemente, dependendo de dois fatores interdependentes, a busca de Deus pelo crente e manifestação de Deus sobre o crente. Os apóstolos do Senhor foram cheios em várias ocasiões distintas:

  • E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (Atos 2:4)

  • E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus (Atos 4:31)

Não significa que o crente que uma vez é enchido do Espírito venha se esvaziar totalmente, havendo sempre a necessidade de enchimento, mas que em certos momentos o enchimento alcança o seu ápice e o crente transborda pelo poder de Deus. O crente só poderá se esvaziar totalmente do Espírito se o mesmo lhe for tirado (1 Sm 16.14; Jz 16.20), conf. (Sl 51.11). O “ser cheio do Espírito Santo” também é apresentado como uma característica do crente espiritual. Muitos crentes da Igreja primitiva são assim identificados:

  • Pedro - Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo, e vós, anciãos de Israel (At 4.8).

  • Os sete diáconos - Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio (Atos 6:3).

  • Estevão - E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo (Atos 6:8).

  • Paulo - Todavia Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo, e fixando os olhos nele (At 13.9).

  • Barnabé - Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor (At 11.24).

O “ser cheio com o Espírito Santo” também nos é apresentado como uma condição em Cristo a ser conquistada pelo crente “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;” (Efésios 5:18). CHEIOS DE TODA PLENITUDE “E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef 3.19). Como já enfatizamos, a palavra “cheio” traz a ideia de “completude”, e quando relacionado ao “ser cheio do Espírito Santo” lembra a “plenitude de Deus” sobre a vida do crente. A plenitude pode ser descrita ou entendida em termos quadruplices; largura, comprimento, altura, e a profundidade (Ef 3.18). A plenitude de Deus é uma referência “a tudo aquilo que da parte de Deus pode ser comunicado ao crente” por intermédio do Espírito Santo; os “dons espirituais” (Rm 12.6-8; 1 Co 12.8-10), “o fruto do Espírito” que são as qualidade morais de Cristo (Gl 5.22), e todos os demais recursos espirituais da vida cristã (Ef 6.10-19). Quando o crente é “cheio do Espírito Santo”, nele se manifesta todos os aspectos da plenitude de Deus.

  • Cheio de todo conhecimento (Rm 14.14)

  • Cheio do fruto de justiça (Fl 1.6)

  • Cheio do pleno conhecimento da sua vontade (Cl 1.9)

  • Cheio de amor fraternal (1 Pe 3.8)

  • Cheio de graça e poder (At 6.8)

  • Cheio de consolação (1 Co 7.4)

  • Cheio de glória (1 Pe 1.8)

O amor é a base para que possamos experimentar toda a plenitude de Deus (Ef 3.19). COMO SER CHEIO DO ESPÍRITO SANTO “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;” (Efésios 5:18). Ser “cheio do Espírito Santo” é uma condição que depende de uma cooperação mútua, Deus e o crente. Desfrutamos da plenitude de Deus a medida que o crente busca a presença do Senhor. Antes de ascender aos céus Jesus ordenou aos seus discípulos: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24:49). Esse mesmo versículo é complementado por Atos 1.8 “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. Após ter disto essa palavras Jesus foi ascendido aos céus, e o seus discípulos em cumprimento às palavras do Senhor Jesus foram para Jerusalém e entraram no cenáculo, onde habitavam os apóstolos do Senhor e “Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (Atos 1:14). Jesus ressuscitou em um domingo de pascoa, isso é, no último e mais importante dia dessa principal festa de Israel. Após sua ressurreição permaneceu como os discípulos cerca de quarenta dias (At 1.3), a festa de pentecostes era realizada cinquenta dias após a pascoa, conforme prescrevia a lei (Lv 23.15-21). Isso significa que os discípulos permaneceram perseverantes em oração por cerca de dez dias. É provável que alguns tenha desistido nesse ínterim (1 Co 15.6), mas àqueles que foram perseverantes receberam a promessa de Cristo e foram” cheios do Espírito Santo”. Um fator igualmente determinante para “cheio do Espírito Santo” é um coração contrito e quebrantado: “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Salmos 51:17). “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito” (Salmos 34:18). Outro fator determinante é o amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5.5; 1 Jo 4.16; Jd 1.21; Ef 3.19). Sejamos “cheios do Espírito Santo” em todo tempo. [1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Atos_dos_Ap%C3%B3stolos

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